O que Bauman diz que não havia nos dois mil últimos anos

Um quase sermão de Bauman com as ideias de Brodsky sobre os contemporâneos ricos, mas espiritualmente pobres, famintos e cansados. A ideia do desejo de desejar."Velocidade, e não duração, é o que importa. Com a velocidade certa, pode-se consumir toda a eternidade do presente contínuo da vida terrena. Ou pelo menos é isso que o "lumpem proletariado espiritual" tenta e espera alcançar. O truque é comprimir a eternidade de modo a ajustá-la, inteira, à duração de uma existência individual. A incerteza de uma vida mortal em um universo imortal foi finalmente resolvida: agora é possível parar de se preocupar com as coisas eternas sem perder as maravilhas da eternidade. Com efeito, ao longo de uma vida mortal é possível extrair tudo aquilo que a eternidade poderia oferecer. Talvez não se possa eliminar a restrição temporal da vida mortal, mas podem-se remover (ou pelo menos tentar) todos os limites das satisfações a serem antes que se atinja o outro limite, o irremovível.".


E segundo Bauman, a transformação das relações humanas e dos próprios homens em mercadoria produz um sentimento de fragilidade e incerteza que domina todas as esferas da vida afetiva e social.Afinal, o ser social, reduzido à condição de mero consumidor, não obtém satisfação plena consigo mesmo nem com o outro, porque até a vida amorosa está impregnada pelas leis e normas do mercado. Para sobreviver, é imperativo que o homem da nossa época se liberte de qualquer vínculo com o passado, adotando como visão de mundo a fugacidade e o aspecto descartável de seres e coisas. (...) as frustrações naturais oriundas da incerteza produzem indiferença, desapego ao outro, indefinição de valores e uma boa dose de cinismo. O peso do efêmero traz consigo o medo de ficar para trás, de não acompanhar os movimentos sempre cambiantes dos eventos – sejam eles políticos, econômicos, sociais e afetivos.

E para finalizar, um breve resumo do capítulo "Buscar abrigo na Caixa de Pandora - ou medo, segurança e a cidade": Se o solo pelo qual nossas expectativas de vida estar se tornando instável, como empregos (empresas também), parceiros(as), redes de amizades, posição que ocupamos na sociedade e a autoestima, tudo está sob a ameaça da mudança inflexível e inescapável com as crises e tensões contínuas que gera a falta de paz e sossego. E as grandes expectativas e doces sonhos acabam se tornando insônias repletas de pesadelos de "ser deixado para trás". Os anúncios publicitários vendem a vida urbana com a ideia de segurança pessoal, as promessas dos produtos e bens, e até de ações políticas para a "vida insegura" é o trunfo do capital do medo. As fontes do medo são produzidas pela "arquitetura do medo", pela intimidação da aparência, e a mensagem que fica é: a insegurança alimenta o medo.


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Texto das leituras do livro "Vida Líquida", de Zygmunt Bauman. (2009).

[junho de 2016].

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