"O espírito se estende até uma generalidade sem limites, forma para si toda uma camada de sentimentos suscitados pelo simples pensamento musical que, de outro modo, se extinguiriam sem deixar vestígios. Eis aí a harmonia. É o que se acha expresso nas minhas sinfonias; mistura de formas múltiplas que, ao se fundirem e se amalgamarem num todo, se dirigem juntas ao mesmo objetivo. Então realmente a presença de algo de eterno, de infinito, de inapreensível se faz sentir e, muito embora penetrado em cada uma das minhas obras pelo sentimento do êxito, sinto mesmo assim, no momento em que a última batida dos tímpanos impõe a meus ouvintes minha convicção e meu prazer, sinto como uma criança a eterna necessidade de recomeçar o que me parece acabado. Fale de mim a Goethe! Diga-lhe que deve ouvir minhas sinfonias! Ele concordará comigo que a música é a única e imaterial entrada num mundo mais alto do saber, que envolve o homem sem que este possa percebê-lo. Para que o espírito possa concebê-la em sua essência, é preciso que ele tenha o sentimento do ritmo; graças à música, temos o pressentimento, a inspiração das coisas divinas. E o que o espírito recebe dela pelos sentidos é uma revelação espiritual encarnada.".
Fauconnier. Beethoven. 2012.
Arnim, Bettina von. Correspondance de Bettina et de Goethe. Paris: Gallimard, 1942.
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