para compreender também o rico produto da Razão criativa que é a história do mundo


"O sentimento é a forma inferior em que pode existir qualquer conteúdo mental. Deus é o Ser Eterno em e para si mesmo; aquilo que é original em e para si mesmo é sujeito do pensamento, e não do sentimento. É verdade que tudo que é espiritual, todo o conteúdo da consciência, qualquer coisa que é produto e sujeito do pensamento — em especial a religião e a moralidade — também deve, e originalmente o faz, existir no modo do sentimento. Mas o sentimento não é a fonte de onde este conteúdo flui para o homem, mas apenas um modo primitivo em que ele existe no homem. É realmente o pior modo, um modo que o homem tem em comum com o animal. O que é substancial também deve existir no sentimento, mas existe principalmente em uma forma superior, mais dignificada. Se se deseja relegar conteúdo moral, mais verdadeiro, o mais espiritual, ao sentimento e à emoção, mantendo-o ali em cima do princípio geral, deve-se atribuir a este conteúdo essencialmente a forma animal — mas esta não é de maneira alguma capaz de conter o espírito. No sentimento, o conteúdo mental é o menor possível, está presente em sua forma mais baixa possível. Até onde ele ainda estiver no sentimento, está velado e totalmente indefinido. Ainda é inteiramente subjetivo, presente exclusivamente na forma subjetiva. Se alguém diz: "Sinto isso e isso assim e assim", essa pessoa isolou-se em si mesmo. Todo o resto das pessoas tem o mesmo direito de dizer: "Não sinto nada disso". E assim o indivíduo saiu do terreno comum de entendimento.

Em assuntos totalmente pessoais, o sentimento está em todo o seu direito. Sustentar que todos os homens tenham isso ou aquilo em seu sentimento é uma contradição em termos; contradiz o conceito de sentimento, o ponto de vista da subjetividade individual de cada um que assumiu esta afirmação. Enquanto o conteúdo mental. É colocado no sentimento, todos estão reduzidos a seu ponto de vista subjetivo. Se alguém chama a outro desse ou daquele epíteto, o outro estaria autorizado a devolver-lhe, e ambos, a partir de seus respectivos pontos de vista, estariam autorizados a ofender-se mutuamente. Se alguém diz quê tem a religião em seu sentimento e o outro, que não vê nenhum Deus em seu sentimento, ambos estão certos. Se nesta maneira o conteúdo divino — a revelação de Deus, o relacionamento de Deus ao homem, o ser de Deus para o homem — está reduzido ao sentimento puro, ele está reduzido à subjetividade pura, ao arbitrário, ao capricho. Dessa maneira, o indivíduo realmente se livra da verdade como ela é em e para si mesma. A verdade é universal em e para si mesma, essencial, substancial; como tal ela só pode estar no e ser para o pensamento.". (HEGEL, 2001, p. 58-59).

Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. A Razão na história: uma introdução geral à filosofia da história. 2. ed. - São Paulo. Centauro, 2001.

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